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Megaoperação investiga PCC por adulteração de combustíveis e lavagem de dinheiro

Grupo movimentou bilhões usando fintechs e fundos de investimento para ocultar patrimônio

28/08/2025 10h54 Por: Amanda Soares /Portal Clube Fm
Megaoperação investiga PCC por adulteração de combustíveis e lavagem de dinheiro

Foto: Divulgação

Uma investigação do Ministério Público de São Paulo revelou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) era responsável por importar de forma ilegal  produtos químicos usados na adulteração de combustíveis vendidos à população. A apuração faz parte de uma megaoperação que envolve três ações distintas: Carbono Oculto (MP), e Quasar e Tank (Polícia Federal).

 

Ao todo, foram expedidos 350 mandados de busca e apreensão, direcionados a pessoas físicas e jurídicas. Em um edifício na Avenida Faria Lima, por exemplo, 15 mandados foram cumpridos. Durante a operação, foram apreendidos documentos e computadores em empresas, corretoras e fundos de investimento, incluindo fintechs.

 

Ao menos 40 fundos de investimento foram usados para ocultar patrimônio do PCC. Uma das fintechs investigadas funcionava como um banco paralelo da organização, movimentando R$ 46 bilhões de forma não rastreável entre 2020 e 2024.

 

Entre os principais alvos estão:

 

Grupo Aster/Copape: donos de usinas e rede de postos usados pelo PCC;

A Copape, que produz gasolina e diesel a partir de petróleo processado, e a Aster, distribuidora de combustíveis, já foram investigadas pelo Ministério Público de SP por fraudes fiscais. Apesar do arquivamento do caso em 2022, a Secretaria da Fazenda aplicou multas superiores a R$ 2 bilhões. As empresas pertencem a Mohamad Hussein Mourad e Renato Steinle Camargo, sendo que Mohamad as adquiriu em 2020 por R$ 52 milhões.

 

Bk Bank: fintech utilizada para movimentar dinheiro por meio de contas não rastreáveis;

Fundado em 2015, o BK Bank é um banco brasileiro focado em soluções digitais para pessoas físicas e jurídicas. Inicialmente voltado a benefícios corporativos, como vale-refeição, hoje oferece serviços bancários digitais, incluindo transferências, pagamentos, depósitos, boletos e gestão de cartões pré-pagos, além de máquinas de cartão e soluções para e-commerce.

 

Reag: fundo de investimentos usado para aquisição de empresas e usinas, além da blindagem do patrimônio dos envolvidos.

A Reag, uma das maiores gestoras independentes do Brasil, administra R$ 299 bilhões, segundo seu site. Fundada em 2013, foi a primeira empresa de wealth management listada na B3, sob o ticker REAG3. Com cerca de 130 profissionais, atua em áreas como crédito, mercado imobiliário, equity, direitos legais e situações especiais. O portfólio da Reag inclui produtos de crédito estruturado como FIDC, CRI e Debêntures, além de FII, Fundos de Precatórios, Quanti, Multimercado e Renda Fixa.

 

 

 

Como funcionava o esquema de lavagem

 

De acordo com as investigações, o grupo operava um esquema complexo que, além de lavar dinheiro proveniente do crime, gerava altos lucros na cadeia de combustíveis. Centenas de empresas eram criadas para ocultar a origem dos recursos, e a fraude envolvia tanto sonegação fiscal quanto adulteração de produtos.

 

“Operações financeiras feitas por meio de instituições de pagamento (fintechs), em vez de bancos tradicionais, dificultavam o rastreamento das transações”, explica a Polícia Federal. Cerca de 1.000 postos de combustíveis ligados ao grupo movimentaram R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024.

 

Uma parte significativa desses recursos sem lastro foi utilizada na aquisição de usinas sucroalcooleiras e no fortalecimento do grupo, que passou a incluir em sua estrutura criminosa distribuidoras, transportadoras e postos de combustíveis.

 

Os lucros e valores lavados eram aplicados em fundos de investimento, por meio de diversas camadas de ocultação, para esconder os verdadeiros beneficiários.

 

Paralelamente às investigações criminais, o Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos do Estado de São Paulo (CIRA/SP) adotará medidas judiciais para bloquear bens capazes de garantir a recuperação do tributo sonegado, cujo valor atualizado ultrapassa R$ 7 bilhões.

 

Operação Tank

 

Como parte da Operação Carbono Oculto, a Receita Federal e a Polícia Federal deflagraram nesta quinta-feira (28/08) a Operação Tank, que apura lavagem de dinheiro do crime organizado por meio de uma rede de postos e distribuidoras de combustíveis.

 

As investigações começaram em 2023, quando um ex-condenado por tráfico internacional, investigado na Operação Ferrari, e sua esposa passaram a exibir bens de alto padrão em um condomínio de luxo em Pinhais (PR), na região metropolitana de Curitiba, sem comprovação fiscal da origem dos recursos.

 

Além de depósitos em dinheiro, pelo menos 121 empresas suspeitas transferiram cerca de R$ 1,4 bilhão para contas de uma distribuidora de petróleo sem apresentar qualquer justificativa ou documentação. Entre 2020 e 2023, uma das distribuidoras declarou um faturamento superior a R$ 7 bilhões, embora indícios indiquem que a empresa tenha sido formada com recursos ilícitos ao longo do tempo.

 

Outra instituição de pagamentos, com sede em São Paulo, também foi utilizada para mascarar a origem e o destino do dinheiro, enviando mais de R$ 400 milhões para a distribuidora.

 

Ao todo, estima-se que mais de R$ 20 bilhões tenham circulado em transações bancárias, gerando cerca de R$ 4 bilhões em tributos federais não pagos, além de aproximadamente R$ 1 bilhão inscrito em dívida ativa, segundo a Receita Federal.

 

Fonte: G1