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Operação Contenção no Rio de Janeiro é a maior em 15 anos e a mais letal no estado

A megaoperação das forças de segurança, considerada a mais letal da história do estado, teve como alvo o Comando Vermelho

29/10/2025 09h57 Por: Portal Clube Fm
Operação Contenção no Rio de Janeiro é a maior em 15 anos e a mais letal no estado

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Após o caos vivido na terça-feira (28), o Rio de Janeiro amanheceu em situação de normalidade nesta quarta-feira (29). A megaoperação das forças de segurança, considerada a mais letal da história do estado, teve como alvo o Comando Vermelho. Em reação, criminosos montaram barricadas e incendiaram veículos e entulhos, bloqueando 35 ruas em diferentes regiões da capital.


Já são 128 mortos na operação. O balanço oficial divulgado pelo governo do RJ afirmava que 64 pessoas morreram, entre eles 4 policiais. Mas na manhã desta quarta (29), moradores da Penha levaram mais de 60 corpos, encontrados em uma área de mata, para uma praça na região. A princípio, esses corpos não foram contabilizados no balanço oficial de mortes, segundo o secretário da PM, coronel Marcelo de Menezes Nogueira.


De acordo com o Centro de Operações e Resiliência (COR) da prefeitura, a cidade voltou ao estágio 1 — o menor em uma escala de cinco, que indica ausência de grandes ocorrências. O estágio 2 havia sido decretado na tarde de ontem, às 13h48, por conta dos bloqueios e do impacto no transporte público.


Durante a madrugada, todas as vias foram liberadas, incluindo a autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, última a ser desbloqueada, por volta das 2h45.


Os sistemas de transporte também operam normalmente nesta manhã. O COR informou que ônibus, BRT, VLT, metrô, trens e barcas funcionam sem alterações. Na terça-feira, porém, o cenário foi de colapso: mais de 200 linhas de ônibus tiveram os trajetos interrompidos e 71 coletivos foram usados como barricadas. A corrida antecipada dos passageiros para voltar para casa causou superlotação no metrô e nos trens, que precisaram reforçar a operação com composições extras.

 

Operação Contenção 


O Rio de Janeiro vive a maior operação de segurança das últimas 15 anos, segundo o governo do estado. Batizada de Operação Contenção, a ação mobiliza 2,5 mil policiais civis e militares nos complexos do Alemão e da Penha, com o objetivo de capturar lideranças criminosas e frear a expansão territorial do Comando Vermelho.


A operação já é considerada a mais letal da história do estado, com pelo menos 64 mortos, superando o número de vítimas da operação do Jacarezinho, em 2021, que deixou 28 mortos e ficou marcada como uma chacina.


Segundo o governo estadual, a ação foi planejada durante 60 dias, após mais de um ano de investigações. Os agentes cumprem centenas de mandados de prisão e de busca e apreensão expedidos pela Justiça, com base em inquéritos da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). O balanço parcial aponta 81 presos, 72 fuzis apreendidos e grande quantidade de drogas ainda sendo contabilizada.


Durante coletiva no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), o governador Cláudio Castro afirmou que o Estado atua com “força máxima e de forma integrada” para retomar o controle dos territórios dominados pelo tráfico.


“Os verdadeiros donos desses territórios são os cidadãos de bem, trabalhadores. Seguiremos firmes na luta contra o crime organizado”, declarou Castro.


O governador classificou a ofensiva como uma resposta ao ‘narcoterrorismo’ e destacou que os criminosos têm utilizado drones, bombas e armamentos de guerra, mas garantiu que “o Estado está preparado” para enfrentar a situação.


Expansão 


No X, termos como Comando Vermelho e Hell de Janeiro estão entre os mais comentados nacionalmente, com usuários compartilhando vídeos de tiroteios, fumaça e ruas bloqueadas nesta terça-feira (28).


Segundo pesquisa do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni/UFF) e do Instituto Fogo Cruzado, divulgada no ano passado, o Comando Vermelho foi a única facção criminosa a expandir seu território no Grande Rio entre 2022 e 2023. Com crescimento de 8,4%, o grupo passou a controlar 51,9% das áreas dominadas por criminosos, ultrapassando as milícias.


O estudo também mostra que o Comando Vermelho recuperou 242 km² perdidos para as milícias em 2021. Naquele ano, as milícias controlavam 46,5% das áreas sob domínio criminoso, enquanto o Comando Vermelho detinha 42,9%.


Cúpula transferida 


Dez criminosos da cúpula do Comando Vermelho (CV), que estavam presos em Bangu 3, foram transferidos na noite desta terça-feira (28) para Bangu 1, a penitenciária de segurança máxima do estado.


A medida foi tomada como resposta às barricadas e às interdições em diversas vias da cidade, após a megaoperação com mais de 2.500 agentes nos complexos do Alemão e da Penha.


A transferência da cúpula do CV tem caráter provisório. O governo do estado solicitou, e o governo federal acatou, no início da noite desta terça, o pedido de transferência de 10 criminosos detidos no sistema penitenciário do Rio para presídios federais.


Segundo o governo, eles são apontados como responsáveis por comandar, de dentro das cadeias, a retaliação de criminosos à megaoperação da polícia nos complexos do Alemão e da Penha.


Entre os presos que foram para Bangu 1 está Marco Antonio Pereira Firmino, o My Thor, considerado um dos principais líderes do CV.


Lista completa dos presos transferidos: 


1. Wagner Teixeira Carlos (Waguinho de Cabo Frio)
2. Rian Maurício Tavares Mota (Da Marinha)
3. Roberto de Souza Brito (Irmão Metralha)
4. Arnaldo da Silva Dias (Naldinho)
5. Alexander de Jesus Carlos (Choque / Coroa)
6. Leonardo Farinazzo Pampuri (Léo Barrão)
7. Marco Antônio Pereira Firmino (My Thor)
8. Fabrício de Melo de Jesus (Bichinho)
9. Carlos Vinícius Lirio da Silva (Cabeça do Sabão)
10. Eliezer Miranda Joaquim (Criam)

 

O governo estadual pediu que os líderes sejam distribuídos em diferentes unidades federais, para dificultar a comunicação entre eles e enfraquecer a estrutura do CV dentro do sistema prisional.
 
 


Repercussão internacional 



A operação realizada pelo governo do Rio de Janeiro nesta terça-feira (28) contra o Comando Vermelho ganhou repercussão internacional devido ao grande número de mortos. Diversos países e entidades internacionais se manifestaram em resposta ao alto nível de letalidade da ação, que tem sido alvo de atenção global.


A ONU (Organização das Nações Unidas) fez uma publicação, no fim da noite de ontem, em seu perfil na rede social X(antigo Twitter), onde escreveu: 


“Brasil: estamos horrorizados com a operação policial em andamento nas favelas do Rio de Janeiro, que já teria resultado na morte de mais de 60 pessoas, incluindo quatro policiais. Esta operação letal reforça a tendência de consequências extremamente fatais das ações policiais nas comunidades marginalizadas do Brasil. Relembramos as autoridades suas obrigações sob o direito internacional dos direitos humanos e instamos a realização de investigações rápidas e eficazes”.


O jornal inglês The Guardiam publicou matéria com a manchete: “Brasil: ao menos 64 mortos no dia mais violento do Rio de Janeiro em meio a batidas policias”.


O espanhol El País cravou em sua reportagem sobre a operação que o “Rio de Janeiro vive uma jornada de caos colossal e intensos tiroteios por uma ação policial contra o crime organizado que já é a mais letal da história da cidade brasileira”. 


O Le Figaro, importante jornal da França, relata em sua reportagem que há muita “contestação sobre a eficácia destas operações policiais de grande porte no Rio de Janeiro, no entanto, elas são comuns na cidade”. 


O New York Times chamou a ação policial de “a mais mortal da história do Rio, com quatro policiais mortos e, ao menos, 60 pessoas mortas. Foi um ataque aos ‘narcoterroristas’, disse o governador do estado”. 


O periódico argentino Clarín reproduziu o post de um brasileiro e estampou em seu site: “não é Gaza, é o Rio”. 


O número oficial de mortos deve aumentar nas próximas horas desta quarta-feira (29). Já há mais de 50 corpos entregues às autoridades pela população local.


Fonte: Agência Brasil/G1 Notícias/Acrítica