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Comissão Europeia descarta ligação entre paracetamol na gravidez e autismo

A declaração responde indiretamente a Trump, que ligou o uso de paracetamol na gravidez ao aumento de casos de autismo

23/09/2025 10h20 Por: G1 AM
Comissão Europeia descarta ligação entre paracetamol na gravidez e autismo

Foto: Reprodução/Internet

A Comissão Europeia afirmou nesta terça-feira (23) que não há evidências científicas que sustentem a ligação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o risco de autismo. A declaração foi uma resposta indireta à fala recente do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que associou o uso do medicamento por gestantes ao aumento nos diagnósticos da condição no país.


Segundo um porta-voz do bloco, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) analisou os dados disponíveis e concluiu que não há fundamentos que comprovem tal relação. O paracetamol, comercializado nos Estados Unidos sob o nome Tylenol, é amplamente utilizado como analgésico e antipirético, inclusive durante a gestação.


“Até o momento, não há evidência que justifique mudanças nas recomendações atuais da União Europeia para o uso do paracetamol”, disse o porta-voz.

 

Declaração de Trump gera reação


A fala de Trump gerou forte reação da comunidade médica e da farmacêutica Kenvue, responsável pela produção do Tylenol. Em nota, a empresa ressaltou que “não há base científica” para a associação feita pelo ex-presidente.


O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia também repudiou a declaração, reforçando que estudos realizados até hoje não apontam ligação direta entre o uso adequado do paracetamol em qualquer fase da gravidez e problemas no desenvolvimento fetal.


No Reino Unido, o Serviço Nacional de Saúde (NHS) classifica o paracetamol como a “primeira escolha” de analgésico para gestantes, por ser considerado seguro quando administrado na dose correta e sob prescrição médica.


O que dizem os estudos


De acordo com o professor Guilherme Polanczyk, psiquiatra da Universidade de São Paulo (USP), estudos menores chegaram a sugerir uma possível associação entre o uso do remédio e riscos discretos de transtornos do neurodesenvolvimento, como o autismo. No entanto, pesquisas mais robustas — como uma realizada na Suécia com mais de 2 milhões de crianças e publicada na revista científica JAMA — não encontraram qualquer relação de causa e efeito.


Ao contrário de outros medicamentos, como os anti-inflamatórios não esteroidais (ex: ibuprofeno), o paracetamol é amplamente recomendado durante a gestação, justamente por apresentar melhor perfil de segurança.


“O que esses trabalhos mostram é correlação, e não causalidade. Ou seja, o fato de duas coisas acontecerem ao mesmo tempo não significa que uma provoca a outra”, diz Polanczyk.


Autismo: diagnósticos aumentaram, mas critérios mudaram


O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por diferentes graus de dificuldades na comunicação, interação social e comportamento.


O número de diagnósticos cresceu nas últimas décadas, mas pesquisas destacam que isso ocorreu principalmente pela ampliação dos critérios clínicos e pela maior busca por avaliação, impulsionada pela oferta de serviços educacionais e de saúde.


Segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, em 2020 cerca de 1 em cada 36 crianças foi diagnosticada com TEA — em 2000, a taxa era de 1 em cada 150.


Isso não significa necessariamente um aumento da prevalência do autismo na população, mas sim maior capacidade de identificar casos, inclusive mais leves.